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Restaurantes e bares agonizam no DF

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Na esteira da crise causada pela pandemia do coronavírus, um dos setores mais impactados é o de bares e restaurantes. Mesmo com a retomada gradual das atividades econômicas no Distrito Federal, autorizada pelo governo, o segmento continua sem perspectivas de reabertura, por causa do risco de aglomeração. Alguns continuam sobrevivendo do delivery. Mesmo assim com retorno insuficiente para cobrir os custos sem necessidade de demissão de funcionários. O estrago é grande e vai piorar se o atendimento presencial não for autorizado ainda em junho.

Jael Antônio, Presidente do Sindhobar-DF

O levantamento do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar-DF) indica que cerca de 400 estabelecimentos de médio e grande porte fecharam as portas definitivamente no Distrito Federal, com demissão de mais de 30 mil funcionários. E a curva pode subir em até 100 fechamentos por semana, se providências urgentes não forem tomadas para o reinício das atividades.

Em Águas Claras, a situação é o espelho do restante do DF. Os principais bares e restaurantes da cidade estão no limite da sobrevivência e não aguentam esperar soluções por muito mais tempo. Mesmo as soluções paliativas oferecidas pelo governo, como a suspensão temporário do contrato de funcionário e linhas de crédito não estão resolvendo o problema. A Medida Provisória 936, que permite a suspensão do contrato de trabalho por até 60 dias caducou no dia 9 de junho e a reativação ainda depende de votação no Congresso.

As linhas de crédito disponibilizadas estão sendo dificultadas pelos agentes bancárias por falta de garantias dos tomadores. O empréstimo com juros especiais anunciado pelo governador Ibaneis teve pouco mais de 200 tomadores até agora, por causa das exigências de contrapartida. “Tem empresário que está oferecendo imóvel como garantia e mesmo assim o banco, no caso o BRB, não está liberando”, reclama Jael Antônio da Silva, presidente do Sindhobar-DF.

A solução, portanto, é reabrir, mas a decisão esbarra no ônus político do governante, que arrisca receber a culpa da decisão caso ocorra aumento de casos de contaminação. Jael conta que tem se reunido com o Gabinete de Crise do GDF para buscar a reabertura o mais urgente possível, claro, dentro das limitações sanitárias recomendadas. O representante da categoria garante que o segmento alimentício não quer forçar a reabertura sem os cuidados necessários, mas dentro de todos os protocolos de segurança sanitária. “Se tomarmos as medidas recomendadas, ir a um bar ou restaurante terá menos riscos do que ir aos supermercados, que estão todos cheios. Não podemos mais aguardar, é agora ou o segmento vai morrer”.

Jael afirma que, embora alguns estabelecimentos ainda funcionem com delivery, a alternativa é financeiramente viável para apenas uma parcela dos negócios. “O delivery só é rentável para o comerciante que tem sua operação pensada exclusivamente para o online. Além disso, as plataformas de delivery cobram entre 23% a 27% da receita. O que sobra paga apenas o insumo, ou seja, o dono do negócio vende para pagar dívida”, completa.

Restaurantes de Águas Claras

Lorena França dos Santos, da Wine Cestas, conta as dificuldades. “Fechamos no dia 19 de março e trabalhamos agora apenas no takeout e delivery. Mas meu faturamento caiu em 40%. Conseguimos sobreviver apenas mais 2 meses. Tudo o que entra é para a rotatividade da loja, não retiramos nada, mas também não deixamos de pagar nada”.

Márcia Monteiro, do Villa Carioca, reclama dos prejuízos pelas portas fechadas “O Villa Carioca está aberto desde 2013 e nunca fechamos. Tinha 52 funcionários e hoje tenho apenas 8 trabalhando aqui comigo no delivery. Hoje, quem não tem um capital de giro pra segurar esta onda, vai ser difícil sobreviver. Minhas vendas caíram 80 a 85%. Tínhamos um movimento muito bom e sofremos um baque muito grande”. Márcia afirma que não sabe até quanto pode manter o negócio funcionando, mesmo depois de fazer acordos com o proprietário do imóvel e com os fornecedores nas datas de vencimento dos boletos.

Lolo Brigida Michetti uma das proprietárias do Restaurante Olé contou que fizeram um alto investimento para trazer a cozinha típica de Manaus para Águas Claras. Infelizmente o restaurante inaugurou apenas três dias antes do decreto de fechamento do comércio. Como não deu tempo de ficar conhecido pela clientela não foi possível nem mesmo tentar delivery, devido o cardápio ser uma novidade na cidade. “Hoje ainda estamos mantendo sete funcionário, dos aproximadamente 20 que tínhamos, com recursos próprios” disse a proprietária. “Caso a reabertura aconteça até 1º de julho faremos uma nova inauguração, caso contrário, o fechamento será definitivo” lamentou Lolo.

“Tivemos uma reunião pessoalmente com o governador e ele encomendou estudos da Codeplan, Secretaria de Saúde e outros órgãos para definir a reabertura. E a ideia é estabelecer os critérios para a abertura. A Abrasel apresentou uma sugestão ao governo e estamos aguardando um entendimento”, conta Beto Pinheiro, presidente da Abrasel no DF, e sócio do Coco Bambu de Águas Claras. “O Coco Bambu se adequou à realidade, tornando-se uma empresa de delivery, com toda a nossa capacidade de gestão. Por isso, ainda é uma empresa viável, fora da curva, por ter feito rapidamente o ajuste. Como o Coco Bambu não tem endividamento, temos ainda sobrevida ao longo prazo, ainda que faturemos apenas 30% do que faturávamos”.

Reabertura prevista para 1º de julho

Uma das atividades econômicas que mais tem sentido as consequências da pandemia do coronavírus, a gastronomia reabriria, no Distrito Federal, em 1º de julho. Representantes do segmento queriam o retorno no dia 25 de junho, mas o governador Ibaneis Rocha argumentou que a preocupação agora é com a disponibilidade de leitos nos hospitais de emergência, que já chegou a 70% da capacidade instalada.

A reabertura foi acertada entre Ibaneis e representantes da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no DF (Abrasel-DF) e do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar). Para viabilizar o retorno, o segmento apresentou ao governo um rígido protocolo de segurança para proteger clientes e trabalhadores dos riscos de contaminação.

Uma das exigências é o teste da Covid-19 para todos os funcionários de bares e restaurantes, como foi feito na reabertura de shoppings e feiras.
“É a data limite para a sobrevivência do que vai sobrar da pandemia. A maioria dos bares e restaurantes do DF, principalmente os maiores, não consegue esperar mais do que 15 dias”, prevê Jael Antonio da Silva, presidente do Sindhobar, ao informar que quase 600 casas já fecharam definitivamente no DF e cerca de 10 mil trabalhadores demitidos desde o início do isolamento social, em fevereiro.

Justiça contesta

A Justiça Federal decidiu, no sábado (20), que o governador Ibaneis Rocha (MDB) deve ficar impedido de decretar a retomada de atividades não essenciais “até nova ordem”.

A medida, assinada pela juíza Kátia Balbino de Carvalho, da 3ª Vara Federal Cível, determina que o GDF apresente, em 10 dias, os números e cenários para a pandemia. A determinação atende a uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal, Ministério Público do Distrito Federal e Ministério Público do Trabalho.

O governador afirmou que vai recorrer da decisão, assim como os representantes do setor. A expectativa é de que se tenham uma posição sobre a situação dos restaurantes antes de 1° de julho.

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