Um texto sem respostas

Até quando terei que aprender aos trancos e barrancos? Quantos tombos ainda terei que levar para chegar até o fim da linha? Existe mesmo o fim da linha?

Tarot, búzios, profecias, oráculos, sinais do céu: tentativas vãs de controlar o incontrolável – o futuro. Nosso destino já está traçado ou podemos modificá-lo de acordo com nossas ações? Há coisas que jamais saberemos.

Se tomo uma atitude hoje, terei um determinado desfecho. E se tomo outra atitude hoje, terei outro determinado desfecho? E se tomo uma atitude hoje e me arrependo dela, consigo alterar o meu futuro somente com o arrependimento?

Se repito ciclos, o que a vida quer me ensinar? Se tento ir por outras rotas mas não gosto de nenhuma, devo voltar à rota original?

Existe mesmo como aprender a amar ou já se ama logo de início? Conseguiria eu viver para sempre com alguém que é apenas meu amigo, sem paixão? A paixão é prejudicial ao ser humano, já que remete ao “pathos”, que significa “doença”? Ou ela é essencial para nos sentirmos verdadeiramente vivos?

Existe telepatia? Será que você consegue sentir o que eu não digo? Será que você vai ler o que estou escrevendo? Será que estou maluca ou apenas sentindo o que devo sentir para evoluir?

Devo aceitar o sofrimento em prol de uma ética maior? Ou devo sucumbir aos prazeres momentâneos para conseguir sobreviver aqui na Terra? Devo dosar um pouco de cada e viver em um constante – e talvez irreal – equilíbrio?

Devo fugir de situações que não condizem com o caminho “certo” ou devo apenas deixar tudo acontecer, sem planejar nada? Devo misturar todos os conhecimentos em busca de uma maior evolução ou focar em apenas uma linha?

Devo obedecer as regras cegamente ou questioná-las de vez em quando? E se as questiono, devo quebrá-las ou apenas me contentar com a reflexão? Devo viver no imaginário, burlando-as somente em minha cabeça, ou devo sentir na pele as verdadeiras experiências fora da lei?

O que é o autocontrole? E o que é a repressão? Qual é a linha tênue entre ser um santo e ser um mártir? Será que existe como não pecar? E se eu pecar, conseguirei sempre me perdoar? Ficarei com marcas para sempre ou serei uma nova criatura a cada ciclo?

Como recomeçar se a cabeça está no passado? Como recomeçar se já não sou mais a mesma? Como recomeçar se já nem sei quem sou? E se sei quem sou, como seguir em frente sem encontrar o que quero para mim? Se sei exatamente o que quero, por que não consigo alinhar tudo com leveza? Ou será que já está tudo alinhado e eu que ainda não percebi?

Por que às vezes parece que estamos estagnados? Por que a comparação não é só com o nosso passado mas também com outras pessoas? E se eu não quiser mudar tanto quanto o mundo muda? E se eu quiser ser conservadora?

Levanto de um jeito, mas nem sempre vou dormir da mesma maneira: ao longo do dia, sinto que vivi trezentas vidas. Faço planos, desfaço tudo, quase nada sai conforme meu mental. Às vezes vem melhor, às vezes vem pior, mas sempre diferente.

Inclusive este texto inaugural: totalmente distante do que eu havia pensado. Sem respostas, sem expectativas, possivelmente sem muitos leitores, sem plateia para minha arte, sem quem eu queria que verdadeiramente lesse. Bem-vindos de volta à minha coluna! Sou grata a todos que aqui estão e que ficaram até o final dessas linhas. Vamos juntos, lembrando que amanhã não seremos mais os mesmos e isto aqui talvez já nem faça mais sentido.