“Nada proporciona melhor capacidade de superação e resistência aos problemas e dificuldades em geral do que a consciência de ter uma missão a cumprir na vida.” — Viktor Frankl
O desgaste humano raramente nasce das circunstâncias externas. Ele brota, quase sempre, da nossa resistência à própria vida, da luta interna contra aquilo que ela nos pede, das expectativas que cultivamos e das narrativas que criamos para justificar por que algo não deveria ser como é.
O sofrimento não é inimigo, mas pedagogo. Aquilo que chamamos de problema é, muitas vezes, apenas uma prova, e provas servem para revelar força, não para produzir fracasso. Cada experiência difícil que enfrentamos com consciência adiciona algo ao nosso caráter. E, uma vez ampliada, a consciência não volta ao estado anterior. Crescer é um caminho sem retorno.
Frankl, que viu de perto a essência do sofrimento humano, compreendeu que o que sustenta alguém não é o conforto, mas o sentido. Quem tem uma missão, um “porquê”, desenvolve uma capacidade singular de resistir, de suportar, de continuar caminhando mesmo quando o corpo ou a alma não querem mais. A missão funciona como uma bússola invisível que reorganiza o caos interior.
No mundo moderno, contudo, o cansaço parece ter se convertido na emoção dominante. Acreditamos que ele vem da agenda cheia, das obrigações infindáveis ou da velocidade com que tudo acontece.
Viver no piloto automático é uma das maiores fontes de esgotamento. Quando repetimos tarefas sem presença, sem consciência, sem coração, transformamos o cotidiano numa sucessão mecânica de atos. Nada floresce no mecânico. E essa repetição vazia não apenas cansa: ela envelhece a alma.
O artista, ao contrário, rejuvenece na repetição. Cada ensaio é a busca pelo melhor de si, não a repetição do mesmo. O que diferencia a rotina que mata da rotina que transforma é a consciência que colocamos em cada gesto.
Outra chave é aprender a alternar esforço e “respiração interior”. Assim como um nadador só atravessa a piscina porque intercala braçadas e respirações, nós também precisamos aprender a mergulhar e emergir: agir e recolher-se, trabalhar e contemplar, produzir e nutrir a alma. Pequenos intervalos de vida interior — uma leitura, um momento de silêncio, um olhar atento para o que é belo — recuperam mais energia do que longas horas de descanso físico.
Grande parte do nosso desgaste nasce também da recusa da realidade. Sofremos não pelo que acontece, mas porque insistimos que deveria ter sido diferente. E quando entramos na lógica do vitimismo, quando perdemos a esperança em nós mesmos, a energia vital se derrama por todos os lados. Nada se sustenta onde a confiança desaba.
Por isso, a consciência de uma missão é tão poderosa. Ela reconcilia o indivíduo com a realidade. Dá coragem para enfrentar o que vier. Reacende a esperança, reorganiza as emoções e devolve sentido ao que parecia apenas peso.
Quando sabemos para onde vamos, até o cansaço ganha propósito. E a vida, mesmo difícil, deixa de ser um fardo para se tornar caminho.







