12/03/2019
| por:Natália Ribeiro
Ó, ser humano exclusivo. Ó, ser humano superior. Ó, ser humano egoísta. Achamo-nos superiores por termos um intelecto desenvolvido, capaz de criar regras. Mas somos animais, e as outras espécies também possuem organizações complexas. O problema é que nosso complexo de superioridade quis varrer a animalidade em nós. E, por isso, criamos sociedades higienizadas, que só se misturam com os outros animais se estes forem domesticados. Silenciamos o caminho natural dentro de nós. Forçamos um mundo sem doenças, sem tristezas, sem alma. Para tudo, um antídoto: analgésicos, ansiolíticos, antidepressivos. Sem falar nas depilações, nos preenchimentos e nas tintas de cabelo. Não podemos nos parecer com as outras espécies. O sexo deve ser feito dentro de quatro paredes, e sequer podemos falar muito dele.
Sentimo-nos seguros, dentro de uma redoma criada por cercas elétricas, câmeras de segurança e carros blindados. Mas o animal preso em nós consegue dar uma escapada de vez em quando. A sede pelo poder, pela vingança e pelo dinheiro comprovam isso. O homem é capaz de todas as atrocidades para conseguir o que quer, ou melhor, para se encaixar nos moldes de superioridade ditados pelo capitalismo selvagem. Somos parasitas. Queremos fazer o mínimo esforço para termos tudo à mão. Os supermercados já nos trazem o animal abatido, pronto para ser temperado, assado e desfrutado. Os vegetais podem vir enlatados, para durarem o quanto quisermos. E, caso venham in natura, só sobreviveram porque, na horta, pesticidas mataram todas as pragas existentes, tentando mitigar qualquer perda monetária.
O que nos preocupa mesmo não é a falta de água, o aquecimento global, a fome no mundo ou o lixo que não tem destino certo. O que nos preocupa é a falta de dinheiro. Mas nossas leis mudam de tempos em tempos. São revogadas, ganham uma emenda constitucional aqui e outra ali. Já as leis da natureza, não. Elas sempre seguiram e continuarão seguindo seu padrão, quer o homem queira ou não. Podemos até disfarçar esse fato criando heróis de cinema que não seguem as regras. São os fora da lei, que sempre saem ilesos. É fácil mentir para si mesmo. É fácil colocar a culpa no governo. Mas não é fácil pensar que, no caminho que estamos, não é preciso bola de cristal para saber o que vai acontecer.
Mas calma, sem calamidade! O ser humano tem, sim, qualidades invejáveis. Temos uma capacidade enorme de amar, de sermos solidários, de regenerar. Sim, podemos regenerar nossa casa, o planeta. Primeiramente, devemos esquecer essa ideia de que tudo deve seguir um padrão. Como grupos tão diferentes podem seguir as mesmas regras? Cadê as idiossincrasias sendo respeitadas? Precisamos neutralizar nossas barbáries por meio do amor. Temos que optar entre o desastre e a metamorfose, já que, na natureza, nada se extingue, tudo se transforma. O que foi feito não pode ser revogado, mas pode ser metamorfoseado.
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