@natiribeiro95
Para onde vão as histórias de amor que não chegaram a ser? Esse foi o questionamento feito por uma psicanalista que adoro, Carol Tilkian. Segundo ela, amores abortados no auge ou, quem sabe, relações sem um ponto final – que geraram dúvidas – são os chamados romances de reticências.
Reticências porque ficaram sem despedida, sem elaboração, sem respostas. E isso, para a psicanálise, pode causar muito sofrimento no ser humano. Principalmente porque o “e se” corroi…
A dúvida vira um labirinto infinito. O luto não existe e, se existe, vem, muitas vezes, acompanhado de uma falsa esperança de ressurreição. A tragédia está no não-fim, na ausência do ritual. O ser humano precisa de ritos de passagem para seguir em frente.
Daí surgem as fantasias: será mesmo que você ainda gosta da pessoa ou ama a ideia de esperar por ela? A psicanálise ensina que projetamos no outro o que idealizamos em nós: e é essa idealização que alimenta o ciclo.
Paixão é menos sobre o outro e mais como ele nos faz sentir. No fim, egoisticamente falando, é tudo sobre nós. Mas vejo nisso algo poético: não no aspecto egoísta da coisa, mas sim no sentido de amar quem somos primeiro, para depois poder transbordar isso ao outro.
Até porque, na ausência do outro, só resta a nossa presença. Será que conseguimos lidar com nossas sombras sozinhos? Quando não há distrações, como nos sentimos? Seguir em frente é lindo, mas requer um extremo trabalho de sentir, de atravessar. Atravessar caminhos que, muitas vezes, são turbulentos.
E isso não significa que o amor vai morrer: muito pelo contrário, se é amor, é para sempre. É só talvez o tempo de ressignificá-lo.