Presidente do Conseg atua há quase uma década em ações que envolvem segurança, infraestrutura e convivência urbana, sem receber nenhum tipo de remuneração
Hoto Barros é uma daquelas pessoas que decidiram agir em vez de apenas reclamar. Presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) de Águas Claras desde 2015, ele dedica parte significativa do seu tempo ao bem-estar da comunidade, e tudo de forma voluntária. Além da função no conselho, atua também como profissional do ramo imobiliário e síndico, o que o aproxima ainda mais das demandas locais.
No Conseg, Hoto coordena as ações ligadas à segurança pública, mas o trabalho vai muito além disso. Ele explica que qualquer medida capaz de melhorar a sensação de segurança na cidade passa pelo conselho. “Se uma praça precisa ser revitalizada, se uma rua está sem iluminação ou se há buracos em uma avenida que aumentam o risco de acidentes, o Conseg entra na discussão e busca soluções junto ao poder público”, detalha.
Apesar de representar uma função de grande importância, Hoto não recebe qualquer tipo de remuneração. Todas as despesas relacionadas ao cargo, combustível, impressões, internet e alimentação em dias de reunião, são custeadas por ele mesmo. “Eu não me importo em ajudar. Mas acredito que o ideal seria uma ajuda de custo para cobrir os gastos básicos de quem se dedica ao trabalho comunitário”, afirma.
A eleição para a presidência do Conseg é feita pelos síndicos dos condomínios da cidade, o que garante que o conselho represente de fato os interesses dos moradores. O mandato tem duração de quatro anos e, segundo o regulamento, Hoto está no último período consecutivo à frente da função. Depois disso, só poderá voltar a se candidatar após um novo ciclo eleitoral.
Cada região administrativa do Distrito Federal possui um conselho semelhante. Em Águas Claras, o grupo tem atuado diretamente em ações de mapeamento e acompanhamento das principais demandas da comunidade. O trabalho inclui reuniões com órgãos públicos, levantamento de problemas urbanos e acompanhamento de solicitações feitas por moradores por meio da ouvidoria do Governo do Distrito Federal (GDF).
Entre as demandas de 2022, destacam-se os problemas com poluição sonora, segurança pública, infraestrutura urbana e trânsito. A perturbação do sossego foi o tema mais recorrente naquele ano, com queixas sobre som alto, horários irregulares e invasão de calçadas por estabelecimentos comerciais. Também foram registradas reclamações sobre iluminação pública precária, ruas esburacadas e áreas públicas tomadas por lixo e entulho, especialmente em praças, avenidas e setores próximos às estações de metrô.
Outro ponto de atenção foi a presença de pessoas em situação de rua em praças e vias próximas ao metrô. Os moradores demonstraram preocupação com a vulnerabilidade social, o risco de consumo de drogas e os problemas de limpeza e segurança associados a essa realidade. O conselho encaminhou as solicitações aos órgãos competentes, pedindo maior atenção da assistência social e policiamento nas áreas críticas.
As demandas de 2023 mantiveram o mesmo foco, mas com um agravamento em algumas áreas. Continuaram as reclamações sobre bares com som alto, ocupação irregular de calçadas e descarte de lixo em locais impróprios. Houve também relatos de furtos em comércios, golpes envolvendo imóveis e pedidos por mais policiamento em praças e avenidas centrais de Águas Claras, principalmente nas áreas próximas ao metrô e nas principais vias de acesso aos setores comerciais.
No campo da infraestrutura, os moradores pediram reforço na limpeza pública, renovação do asfalto e correção de problemas de drenagem em avenidas e ruas de grande movimento. As calçadas danificadas e a falta de acessibilidade também voltaram a ser temas constantes, além da necessidade de melhorar a iluminação em praças e avenidas, para reduzir a sensação de insegurança à noite.
Em 2024, as preocupações seguem praticamente as mesmas, mas com um novo agravante: a presença cada vez maior de moradores de rua em situação de vulnerabilidade e o aumento de pontos de uso de drogas. Também persistem os pedidos de câmeras de vigilância no Parque de Águas Claras, além de reforço no policiamento ostensivo em praças, avenidas e áreas próximas às estações do metrô.
No trânsito, o Conseg recebeu reclamações sobre cruzamentos perigosos, falta de sinalização, estacionamento irregular e excesso de velocidade em vias movimentadas. Entre as sugestões estão a criação de novas rotatórias, implantação de lombadas e faixas de pedestres em pontos de maior fluxo, principalmente nas avenidas comerciais e nas vias de ligação entre setores residenciais.
Mesmo diante desse cenário complexo, o presidente do conselho segue atuando com otimismo. Ele reconhece que muitas soluções dependem diretamente do governo do Distrito Federal, mas destaca que o papel do Conseg é justamente cobrar e articular as melhorias. “O Conselho não tem poder de execução, mas tem poder de mobilização. E é essa união com a comunidade que faz a diferença”, resume.
Ao longo dos últimos anos, Hoto tem participado de inúmeras reuniões com representantes da administração regional, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e secretarias do GDF. O objetivo é alinhar estratégias que tornem a cidade mais segura e agradável.
Sem salário e sem benefícios, o trabalho de Hoto e dos demais integrantes do conselho é, acima de tudo, um exemplo de engajamento cívico. Cada reunião, cada relatório e cada visita a um local com problema de iluminação ou segurança é feita com recursos próprios. Ainda assim, ele garante que vale a pena. “O que me motiva é ver o resultado, é ver a cidade funcionando melhor e as pessoas reconhecendo o nosso esforço”, comenta.
