Mesmo com redução de ocorrências registrada pela SSP-DF nos três primeiros meses de 2025, moradores seguem apreensivos diante de casos recentes de violência e da presença crescente de moradores de rua e usuários de drogas
Os dados mostram uma realidade, mas quem vive em Águas Claras sente outra. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), os crimes diminuíram na região nos primeiros três meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2024. Ainda assim, a sensação de insegurança permanece entre os moradores, que relatam medo de andar pelas ruas, principalmente à noite, e apontam que a presença de usuários de drogas e alguns moradores de rua tem aumentado.
De janeiro a março de 2025, Águas Claras registrou queda em diversas modalidades criminosas, conforme dados divulgados pela SSP-DF. Houve redução de 13% no total de ocorrências em relação ao mesmo período do ano passado, passando de 161 registros em 2024 para 140 neste ano. Um dos dados mais significativos foi a queda de 100% nos crimes violentos como homicídios, latrocínios e lesão corporal seguida de morte: em 2024, houve um caso; em 2025, nenhum.

Crimes contra o patrimônio, como furtos e roubos, também diminuíram: foram 146 casos no ano passado e 116 neste ano, queda de aproximadamente 20,5%. No entanto, nem todos os indicadores são positivos. As tentativas de homicídio e os estupros cresceram 42,8% (de 7 para 10 casos), e o número de ocorrências de tráfico de drogas dobrou (de 7 para 14).
Para quem mora na cidade, os dados frios não são suficientes para acalmar o medo cotidiano. “Os números podem até ter mudado, mas a sensação não. Não dá mais para sair tranquilo na rua, muito menos à noite. Águas Claras está cheia de moradores de rua e usuários de droga, digo porque passam na minha rua o tempo todo”, afirma Matheus Perna, morador de Águas Claras.
Ele também relembra um dos casos que aumentaram a tensão local. No último dia 28 de março, um adolescente de 15 anos foi esfaqueado no abdômen durante uma tentativa de latrocínio, na quadra 107 de Águas Claras. O crime aconteceu por volta das sete da noite. Um bombeiro militar que passava pelo local de folga prestou os primeiros socorros até a chegada das equipes. O jovem foi estabilizado à época e levado ao Hospital de Ceilândia. A facada atingiu a região da costela, mas não causou ferimentos em órgãos vitais, o que dispensou cirurgia. A PM informou que intensificou o patrulhamento na área.
Outro caso que chamou a atenção foi o de uma mulher que teve a moto roubada enquanto esperava por chamadas de entrega por aplicativo. Um homem armado exigiu a chave do veículo e fugiu rapidamente. A cena foi registrada por câmeras de segurança. Até agora, nem o suspeito nem a motocicleta foram encontrados.
O aumento na circulação de pessoas em situação de rua e dependência química, associado a trechos ainda escuros da cidade, contribui para o clima de insegurança. Durante mais de 600 dias, por exemplo, o Parque Sul de Águas Claras ficou sem iluminação pública à noite. Inaugurado em agosto de 2023, o parque foi projetado para ser um espaço de lazer, mas a escuridão forçou os moradores a evitarem o local no período noturno.
A ausência de luz afetou diretamente o uso do parque e gerou cobranças constantes dos frequentadores. A situação começou a mudar apenas no fim de março de 2025. Após uma reportagem divulgada por nossa equipe, a instalação de postes com luminárias LED foi iniciada. A previsão é que as obras terminem em maio. Os refletores já instalados funcionam das 18h30 às 22h, o que tem contribuído para melhorar a sensação de segurança, mesmo que ainda seja necessário avançar em outras áreas da cidade.
Para o síndico Tiago Oliveira, a iluminação pública tem um papel fundamental. “Não fui roubado, mas minha esposa já teve o celular levado. Registramos boletim de ocorrência. A melhor dica sempre foi evitar andar em locais escuros e desacompanhado. A iluminação pública funcionando já ajuda bastante e melhora a sensação de segurança”, afirma.

O registro de boletins de ocorrência, inclusive, é essencial para orientar as ações das forças de segurança. Segundo a Tenente Marília da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), os policiais militares orientam os cidadãos sobre a importância do registro de boletins de ocorrência, inclusive para fins estatísticos. Essa prática fortalece os mecanismos de segurança pública e assegura os direitos previstos na Constituição Federal. A segurança pública, conforme o artigo 144, é dever do Estado e responsabilidade de todos. Nesse contexto, o boletim de ocorrência permite que instituições públicas acompanhem, investiguem e adotem medidas com base em dados concretos. A PMDF reforça que a colaboração da sociedade é essencial para um ambiente mais seguro.
Além disso, a Polícia Militar atua em parceria com órgãos do GDF por meio das reuniões do Conselho Comunitário de Segurança (CONSEG). Nessas reuniões são discutidas estratégias integradas para lidar com questões como a presença de pessoas em situação de vulnerabilidade social. O Batalhão também tem intensificado o policiamento em Águas Claras com patrulhamento ostensivo, operações específicas e abordagens preventivas.
A PMDF também tem promovido o envolvimento dos moradores por meio da implementação da Rede de Vizinhos Protegidos, que visa fortalecer os laços entre a comunidade e a polícia. O programa estimula a vigilância solidária e a troca de informações em tempo real. Com apoio da população, a resposta às ocorrências pode ser mais rápida e eficaz.
Para quem estiver em locais com pouca iluminação e notar alguém suspeito por perto, a orientação da PMDF é: manter a calma, evitar distrações como o uso de celular ou fones de ouvido, procurar locais movimentados e bem iluminados, manter distância de suspeitos e, em caso de ameaça, acionar o 190 imediatamente.
Apesar das ações e da melhora nos números, ainda há desafios. Águas Claras é uma das regiões administrativas com maior densidade populacional do Distrito Federal. O crescimento vertical e o aumento da circulação de pessoas atraem tanto moradores quanto criminosos. A segurança, nesse contexto, depende de um trabalho conjunto entre o poder público e a população.
Por isso, a PMDF alerta para a importância do envolvimento comunitário. “A participação dos moradores é essencial para o sucesso da iniciativa. Com o apoio da comunidade, a PMDF poderá atuar de forma ainda mais eficaz, garantindo uma resposta mais rápida às ocorrências e contribuindo para a redução dos índices de criminalidade”, reforça a nota da PMDF.