Próximo à saída da Universidade de Brasília (UnB), na Via L2 Norte, um carro estacionado chama a atenção de pessoas acampadas no passeio público. Liderado por um homem, o grupo se mobiliza para abordar o veículo, revelando uma cena comum nesta época do ano no Distrito Federal. Moradores de baixa renda, provenientes de cidades vizinhas e até de regiões distantes, se instalam em áreas públicas em busca de doações, contribuindo para o aumento das pessoas em situação de rua na capital.
Nos arredores da UnB, o gramado tornou-se um ponto de encontro anual para famílias que montam acampamentos com tendas de lona e barracas improvisadas. A atração desses migrantes temporários, principalmente do Nordeste, se dá pela expectativa de encontrar auxílio em uma cidade com maior poder aquisitivo, conforme destaca Rócio Barreto, cientista social e sociólogo da UnB.
Neildes da Silva de Almeida, 34 anos, de Valparaíso de Goiás, é um exemplo desse fenômeno. Deslocando-se para Brasília anualmente desde 2002, ela busca ajuda devido à dificuldade de encontrar emprego após ter perdido movimentos na mão devido a violência doméstica. Luzia Cavalcante Nanlim, prestes a completar 69 anos, também participa desse movimento, deixando sua casa em Planaltina de Goiás para acompanhar o tratamento da filha na Asa Norte.
As queixas das entrevistadas incluem a falta de atendimento nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) de Brasília e do Entorno. O governo federal e a administração local são criticados por negligência, com relatos de cadastramento sem recebimento de auxílio ou cestas básicas.
Segundo dados de 2022 do Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPE-DF) em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), aproximadamente três mil pessoas vivem em situação de rua na capital. A Sedes destaca a importância de direcionar doações para organizações sociais e intensifica o trabalho das equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social durante os períodos festivos. No entanto, Coracy Chavante, subsecretário de Assistência Social da Sedes, aponta desafios na consolidação de dados dessa população móvel e ressalta que muitos não aceitam o atendimento socioassistencial.
*Com informações do Correio Braziliense