Estamos nos anos 70 e o filme começa com um grupo de adolescentes invadindo uma área reservada para se divertir num lago em plena noite. Ao mesmo tempo vemos funcionários jogando produtos químicos na mesma água e já presumimos que não vem coisa boa por aí. Há um corte para a década de 90, onde um fazendeiro desesperado e muito, mas muito indignado procura um advogado em um grande escritório para representa-lo contra a DuPont, uma gigante indústria química inventora do nylon e do teflon.
Baseado em um artigo do New York Times “O advogado que se tornou o pior pesadelo da DuPont”, o filme é produzido, olha só que interessante, pelo protagonista Mark Ruffalo que em 2014 também estava em outro filme envolvendo histórias da mesma DuPont (o filme é “Fox Catcher”).
Mark é um ator engajado com temas como a conscientização para alterações climáticas e aumento de energias renováveis e não por acaso escolheu produzir o filme.
Rob Billot (Ruffalo) é um profissional que acaba de se tornar sócio em uma grande firma. Um dia sua vida cruza com a de um fazendeiro cujas terras foram envenenadas por águas poluídas pela DuPont, causando a morte de centenas de animais. Ainda incrédulo, Billot viaja até a cidade de Parkersbourg, West Virginia , sua terra natal, e descobre, além de animais mortos, pessoas muito doentes. Começa aí uma investigação que deverá durar 20 anos.
O maior conflito está no fato de, ao longo do processo, Billot perceber que há falhas nas instituições e ao mesmo tempo enfrentar a descrença das próprias vítimas, de alguns colegas e em alguns momentos da própria esposa (Anne Hathway). Se por um lado há a frieza da DuPont com a certeza que seus esquemas envolvendo dinheiro e poder serão suficientes para garantir a impunidade, de outro lado existe uma comunidade onde a DuPont ainda é garantia de emprego e futuro econômico.
A direção de Todd Haynnes não nos deixa esquecer que estamos lidando com um ambiente frio, poluído, sujo em cenas onde tons cinzento azulados predominam fazendo da fotografia um acento à narrativa.
Sem histórias paralelas e sem romantizar, o filme tem no elenco atores publicamente atentos às questões ambientais, Tim Robins e Bill Pullman, que dividem a cena com Bill Camp, um assustador e ao mesmo tempo doce fazendeiro em busca de justiça para todos.
Quando estreou nos Estados Unidos, o filme chamou atenção e ganhou o prêmio Truly Moving Picture, pela importância humanitária e Humanitas, organização que homenageia as artes e defende direitos humanos.
Mas o mais assustador, já que sabemos o final da história com uma simples pesquisa de busca, é a notícia que o resultado de anos de pesquisa afirma: o uso dos produtos Teflon contaminou 99% da população mundial.
Saí do cinema pensando sobre o que não sabemos, não imaginamos e ao que estamos sujeitos em nome do dinheiro. Enquanto houverem pessoas como Rob Billot dispostas a lutar contra gigantes, ainda podemos ter alguma esperança na humanidade.
(stella.domenico@hotmail.com)