por Silvana Scórsin
O Diretor Presidente da ADASA Raimundo Ribeiro destaca as ações, programas e futuros projetos que contribuem para o incentivo do uso racional da água. Nessa entrevista, Raimundo Ribeiro fortalece a missão do órgão em fiscalizar e colaborar para que políticas de reuso e novas tecnologias sejam implantas.
SILVANA SCÓRSIN – Quais as ações que estão em pleno andamento na ADASA?
RAIMUNDO RIBEIRO: A primeira grande preocupação, e fundado também na razão da existência da ADASA, é trabalharmos com recursos hídricos, resíduos sólidos, enfim, nós regulamos e fiscalizamos uma série de atividades públicas. Hoje o principal ativo do mundo é a água. O Brasil é um país privilegiado porque detém 18% de toda a água do planeta. Então nós temos que ser muito cuidadosos para que a gente possa, sabendo que se trata de um bem finito, trabalhar para que ela possa ser muito bem utilizada. E quando eu digo que a água é o principal ativo do mundo hoje, a água será, todos sabendo que é um bem finito, será em um futuro próximo, objeto de convergências e divergências, porque muitos vão querer o que a cada dia que passa vai diminuindo. Então, a gente tem trabalhado no sentido de fazer com que possamos reaproveitar melhor, fazer o uso consciente da água e também aproveitar fundamentalmente um presente que Deus nos deu, desde quando criou o mundo, que é a água da chuva que a gente não aproveita ainda na totalidade do que nos queremos. Eu me lembro quando eu era menino no Piauí querido, quando trovejava, o nosso desejo era sair correndo para a rua para tomar banho de chuva, aquilo ela uma festa! Recebia-se a água, recebia- se a chuva como um presente. Hoje em dia, lamentavelmente a gente vê o litoral de São Paulo devastado porque ocorreu a chuva, mas não é porque ocorreu a chuva. É porque as pessoas não se prepararam para receber. Veja, nós temos uma tragédia anunciada no Brasil há quinhentos anos. Todo ano, no mês de dezembro nós temos as tragédias de: São Paulo, Minas, Bahia, Rio de Janeiro e aqui no Distrito Federal, aqui bem menos. Mas porque acontece isso? Por que nós temos que entender que a chuva é um presente de Deus, e para isso a gente então tem que recebê-la com festa, tendo um local, uma forma de capta-la, armazena-la para depois distribuí-la. Esse é o grande desafio.
SILVANA – Todos temos o conhecimento da importância da água, porém no DF a palavra “escassez” é uma sombra que há tempo nos ronda. Como estamos lidando com este cenário futuro no DF?
RAIMUNDO RIBEIRO – Primeiro a gente tem que entender como nasce Brasília. Brasília é uma cidade divinal, porque ela nasce do sonho de Dom Bosco que diz que aqui será a terra da redenção e eu acredito piamente em Santo viu? Então, eu acredito no que ele (Dom Bosco) disse. Logo depois aparece um maluco em Minas Gerais, provocado pelo Toniquinho lá em Jataí, e resolve construir Brasília. Construiu essa cidade em 3 anos, ou seja, ele materializou o sonho de Dom Bosco. Brasília é uma cidade que não é apenas para ser a capital mais linda do mundo, ela realmente é a terra da redenção. Nós passamos uma vergonha em 2017 que foi a de faltar água e houve uma série de razões para que isso tenha acontecido, mas em 2011 já tinha estudos dizendo que isso poderia acontecer, então era necessário o preparo. Terminamos tendo que conviver com aquilo, as pessoas sentiram aquela dificuldade e uma das missões que a ADASA tem é não permitir que isso aconteça nunca mais. Porque se isso acontecer lá no alto sertão, onde a água demora para chegar, não é bom. Mas a gente sabe que pode acontecer, agora, na capital que nasceu para ser a capital de todos os brasileiros, a capital da redenção, é inadmissível. A gente tem que entender também, e aqui eu rendo homenagem ao ex-governador Joaquim Roriz, porque há trinta anos, ele já prevendo que poderia faltar em razão do aumento populacional, ele foi atrás de Corumbá 4. Eu me lembro porque eu já vivia em Brasília e ele recebia muitas críticas por causa disso. As pessoas diziam que era mais uma obra faraônica e hoje está aí a necessidade. Hoje, (Corumbá 4) é um dos grandes, o Governador Ibaneis Rocha fez a inauguração, em maio do ano passado, e fez com água — é a primeira vez que se faz a inauguração com água, alguns outros governadores inauguraram sem água (risos) — Então é importante (Corumbá 4), é mais uma fonte que a gente têm e hoje não há nenhuma previsão de que nós possamos passar maiores dificuldades, mas nós temos que trabalhar preventivamente e antecipadamente para que essa situação permaneça, de a gente não ter preocupação com a escassez. Então, hoje em dia a gente está trabalhando muito nessa questão do reuso, muito na questão do aproveitamento da água, fazendo projetos e buscando alternativas. O reuso é muito interessante, e quando se fala em reuso, as pessoas ficam perguntando como faz o reuso. Bem, nós temos as águas que são utilizadas em banho e em outras situações que se ela for trabalhada ela pode sim ser reutilizada, por exemplo, para irrigação, lavagem de garagens e outras coisas que podem ser feitas, que é o uso consciente. E veja, quem de nós nunca passou mais de 30 minutos embaixo do chuveiro? As pessoas passam!
SILVANA – Tem sido uma tarefa difícil mostrar para a população sobre a importância da sustentabilidade na utilização de recurso natural finito?
RAIMUNDO RIBEIRO – Não tem sido difícil sabe porquê? Por que a gente tem conversado muito como principal vetor de mudança que nós temos hoje, que é a criança e o adolescente. Nós temos um programa extraordinário aqui na ADASA que se chama ADASA NA ESCOLA. É uma parceria que temos com a Secretaria de Educação, que a secretária Hélvia tem dado uma importância fundamental para gente, e nós já tivemos contato com mais de 600 mil alunos ao longo da História da ADASA NA ESCOLA, para exatamente levar até a criança, na sua origem e na sua formação, informações de como ter um uso consciente da água, por exemplo: o caso de quem passa 30 minutos embaixo do chuveiro ou quem escova os dentes e deixa a torneira ligada enquanto escova. São hábitos que podem sofrer alteração! Agora, precisa que a gente tenha consciência da importância desse instrumento para todos nós. E a criança, hoje, ela consegue ao sair da escola, levar para dentro de casa essas informações, e ela tem inclusive um poder de convencimento. Antigamente via o pai levando o filho para um estádio de futebol, e se fosse para ver um espetáculo então como um jogo do Fluminense (risos), era o pai que levava. Hoje, é o filho que leva o pai. Veja, o menino diz assim: ‘Pai, tem uma competição 7 horas da manhã no domingo’ — O pai acorda às 6h da manhã para acompanhar o filho, o pai e a mãe. Então veja, houve essa alteração e nós optamos por fazer essa comunicação direta com os alunos, com as crianças, e isso tem rendido muito porque a gente tem notado, de forma lenta, mas gradual, uma mudança de comportamento.
SILVANA – SANEAMENTO: O Distrito Federal está em que plataforma em relação ao país. Tem muitas áreas ainda para serem saneadas?
RAIMUNDO RIBEIRO – Na verdade, o Distrito Federal, mesmo com todas as dificuldades que a gente enfrenta, o DF é um oásis se comparado com outras unidades da federação. Então, a nossa situação, se não é a ideal, é uma que está um pouco acima de outras regiões, até porque Brasília tem geograficamente uma localização muito boa, sempre teve. Por ser a capital da república, sempre teve um tratamento diferenciado, mas muita coisa ainda precisa melhorar. Precisamos fazer uma série de coisas, pois os problemas de Brasília não surgiram no seu nascimento, mas sim no seu crescimento. À medida que vai crescendo a cidade, os problemas vão surgindo. Veja que há alguns anos você não tinha ocupação ali naquela área que depois tornou-se a Estrutural, terminou tendo, por pressão, por moradias a construção de uma cidade ali. A cidade, quando ela surge, ela surge muito mais por força da pressão popular do que por planejamento, diferentemente de Brasília, e aí, com isso, ficam alguns problemas que precisam ser resolvidos. Mais recentemente, temos o caso do Sol Nascente e do Pôr do Sol. Temos que trabalhar em várias áreas. Primeiro, evitar que essa pressão popular aconteça, e como você evita? Planejamento dentro da cidade, inclusive na área habitacional, e ao mesmo tempo, ao acontecer de você construir uma nova cidade, você já construir com todos os equipamentos necessários para que não se tenha que enfrentar problemas que seriam evitáveis se tivesse planejamento e ordenamento. Hoje, nós temos uma população de 3 milhões, sendo 4 milhões e meio flutuante, considerando a região do entorno. A gente precisa realmente estar a todo momento repensando. Eu vejo, por exemplo, o Plano Piloto, é um bairro que tem hoje, 63 anos, vai completar agora dia 21 de abril. Os prédios são envelhecidos, envelhecidos no sentido de terem sido construídos há quase 70 anos. Então, a questão do reuso, nós podemos ter reuso em todos os prédios do Plano Piloto e o Estado pode ajudar. E como? Financiar por exemplo a construção de reservatórios, o maquinário necessário para que se faça o reuso, e se nós tivermos todos os prédios do Plano Piloto utilizando o reuso, imagina como teríamos água em abundância!
RADAR DIGITAL BRASÍLIA – Quais tecnologias a ADASA procura ou investe para ter sucesso em seus programas e ações?
RAIMUNDO RIBEIRO – A gente importa muito e faz uma interação e integração com a inteligência disso (reuso). A ADASA não executa determinados trabalhos, ela regula e fiscaliza. Agora, o que ela tem feito é incentivado a contratação de consultores. Ela tem buscado intercâmbio com outros países com outras tecnologias para que possa disponibilizar para os órgãos. Exemplo: Aqui em Brasília nós temos a CAESB, que é a grande fornecedora de água da cidade. Ela é uma concessionária que é regulada pela ADASA, a qual é a obrigação da ADASA. É fazer esse intercambio, é buscar esse conhecimento e fazer uma integração com a CAESB para que ela, cada vez mais, possa se aperfeiçoar na captação e distribuição da água. E isso também é feito com o SLU, com a NOVACAP com relação a drenagem, enfim, esse é o grande trabalho que a ADASA pode fazer. Acredito que nos próximos dias, nós devemos assinar o contrato de concessão com a NOVACAP. A ADASA participa do Conselho Mundial da Água, aliás Brasília fez o Forum Mundial da Água em 2017. Temos 35 governadores da água no mundo, e um deles é representante da ADASA, então esse intercâmbio acontece sempre. O próximo Fórum vai ser lá Bali em maio do ano que vem, e a ADASA estará presente e por uma feliz coincidência: a ADASA tem dois assentos nesse Conselho Mundial seletivo, que é o Diretor-Presidente e o Diretor Vinícius, que é o presidente da Associação da Agências, que também foi eleito para esse Conselho Mundial. Veja, temos duas vozes lá e isso realça a importância do Distrito Federal. E o Brasil, na verdade, tem 3 representantes, tem mais a SABESP de São Paulo, ou seja, no âmbito mundial nós temos, de 35, nós temos 3 representantes, quase 10%. Claro que queremos ampliar mais, pois afinal de contas, o Brasil é que detém o maior volume de água. Isso se faz com o tempo. O mais importante não é o tamanho da representação e sim a integração e a interação, a troca de informações e o intercâmbio que se faz para que a gente possa cada vez mais oferecer a Brasília, principalmente aos moradores do Distrito Federal, o conforto necessário de poder utilizar um bem, que a gente sabe que é finito, mas que se a gente utilizar bem, ele vai durar a vida toda.
Fonte: Radar Digital Brasília