Frequência diária do ruído, impactos em gravações, rotina familiar prejudicada levaram moradores a reforçar queixas sobre escapamentos abertos. Administração Regional respondeu de forma genérica, e o Detran-DF não esclareceu os questionamentos enviados.
As reclamações sobre o barulho provocado por motos, especialmente aquelas que circulam com escapamentos abertos ou adulterados, voltaram a ganhar força entre moradores de Águas Claras. A sensação de aumento do incômodo e a falta de ações efetivas de fiscalização têm levado parte da população a relatar impactos na rotina, no descanso e até no trabalho.
O jornalista Dalton Almeida, morador da região, afirma que o ruído já se tornou parte do cotidiano. “A frequência do barulho aqui é quase diária. Nos horários noturnos, quando a cidade está mais silenciosa, essas motos fazem um barulho mais forte e fica mais perceptível. Durante o dia também ocorre, então é constante”, relata.

Ele explica que a geografia de Águas Claras contribui para o problema. “Temos avenidas largas — Castanheiras, Arniqueiras e as vias que margeiam a linha do metrô — que permitem que as motos atinjam maior velocidade. Com isso, o barulho se intensifica.”
O ruído tem atrapalhado até o trabalho. Dalton conta que, em algumas ocasiões, precisou interromper entrevistas por causa do som das motos. “Já tive que refazer perguntas durante gravações de áudio e vídeo. Às vezes é preciso esperar o barulho passar para continuar.”
Para ele, a solução depende principalmente de fiscalização. “Acho que o Detran deveria intensificar esse tipo de fiscalização. Sei que não é uma prioridade, mas já que fazem blitz para encontrarem motos roubadas, e para lei seca, poderiam incluir o controle do nível de ruído. Existe regulamentação para isso. Não é difícil fiscalizar.”
O jornalista acrescenta que a administração local tem pouca margem de ação. “Não sei que tipo de fiscalização a Administração de Águas Claras poderia fazer, deve estar fora da competência. Mas campanhas de conscientização seriam úteis, porque o barulho afeta famílias, crianças dormindo… Tornaria a cidade mais agradável.”
Para quem tem filhos pequenos, o incômodo se torna ainda mais intenso. A moradora Ana Lins, mãe de uma bebê de meses, relata que os últimos meses foram especialmente difíceis.

“Moro aqui há seis meses, e entre 16h e 19h o barulho realmente começa a incomodar. Sinto que piorou nos últimos dois meses; antes era mais pontual, agora é frequente e mais alto”, conta.
Segundo ela, o impacto no sono da filha tem sido recorrente. “Qualquer moto barulhenta faz ela despertar assustada. Isso desorganiza toda a rotina da casa. Ela é acordada quase sempre quando essas motos passam. Afeta o emocional, o descanso e até minha própria organização.”
Ana ainda não fez reclamações formais, mas considera necessário reforço institucional: “Acho importante ter mais fiscalização nos horários de pico e campanhas de conscientização sobre escapamentos irregulares. Se houvesse orientação e fiscalização real, já ajudaria muito. A comunidade também poderia participar mais, fazendo denúncias coletivas.”
Entre motociclistas experientes, o incômodo também é reconhecido. Evaldo Santos, que é piloto e participa de motoclube já há muitos anos, destaca que o problema existe e prejudica até quem tenta agir corretamente.

“As reclamações são reais, pois os barulhos desordenados realmente incomodam muito. Falta fiscalização e alguns motoclubes não encaram as leis como deveriam.”
Ele critica a generalização que acaba recaindo sobre todos. “Infelizmente todos são taxados como motoqueiros, quando os verdadeiros que seguem as regras são motociclistas. Tanto motoboys quanto motoclubes têm quem respeita e quem não respeita.” Para Evaldo, o caminho é claro: “O aumento da fiscalização adequada ajudaria muito.”
Questionada pela reportagem, a Administração Regional de Águas Claras limitou-se a informar apenas que o Detran-DF realiza a Operação Sossego na região. A nota enviada afirma:
“A Administração Regional de Águas Claras informa que o Detran-DF realiza Operação Sossego com constância na região administrativa de Águas Claras. A última foi realizada no dia 4 de novembro.”
A declaração não respondeu objetivamente às perguntas enviadas pela reportagem, entre elas, quais ações próprias a Administração desenvolve, se há parceria com outros órgãos, quais medidas de conscientização são feitas e se existe planejamento específico para áreas críticas.
Também o Detran-DF, até o fechamento desta matéria, não respondeu às questões encaminhadas via assessoria de imprensa. Apenas o servidor Isaac Marra, da Subsecretaria de Divulgação (Secom/DF), enviou uma resposta genérica:
“O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) informa que realiza, de forma contínua, diversas operações de fiscalização e policiamento em todas as regiões administrativas, incluindo Águas Claras. Entre essas ações, destaca-se a Operação Sossego, voltada especificamente para o combate à poluição sonora e a outras infrações, com atenção especial aos motociclistas que utilizam escapamentos irregulares.
Denúncias podem ser feitas pelo telefone 154 ou pelo Participa DF. É importante indicar local e horário para o planejamento das fiscalizações.”
Nenhum dos órgãos respondeu diretamente aos questionamentos enviados, como número de operações específicas na região, resultados obtidos ou possíveis reforços de equipe e estratégia.
Enquanto o barulho das motos continua parte do cotidiano e, para muitos, um problema crescente, moradores reivindicam medidas concretas. Entre elas: fiscalização direcionada, campanhas educativas, atuação conjunta entre Administração e Detran e maior transparência sobre as ações aplicadas na região.
Até agora, porém, as respostas oficiais continuam genéricas, e a sensação entre os moradores é de que o problema segue sem solução à vista.







