Águas Claras é a sexta região administrativa mais populosa do Distrito Federal, porém é a segunda em números absolutos de infectados pelo novo coronavírus. Segundo, o boletim da Secretaria de Saúde divulgado na noite de domingo, 26 de abril de 2020, tem 97 pessoas com a Covid-19 e três mortes em decorrência da doença. Águas Claras só fica atrás do Plano Piloto, que possui 207 casos.
O crescimento de casos confirmados deve-se a vários fatores, um deles é o fato de parte dos moradores da cidade não respeitar o isolamento, de acordo com especialistas, representantes de entidades e moradores. Ao sair às ruas pode ser visto, pessoas fazendo exercícios em pontos comunitários, conversando nas praças ou o trânsito engarrafado.
Os números subiram de 34 para 97 casos, entre os dias 1º a 26 de abril de 2020, apresentando um crescimento de 185%. Segundo dados mais recentes da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), a região administrativa tem 148,9 mil habitantes.
Fatos considerados no índice de contaminação
O professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Wildo Araújo ressaltou que a rede de contatos dos moradores de Águas Claras também é um fato a ser considerado no índice de contaminação. “São pessoas de classe média, classe média alta, que tiveram acesso a aeroportos, pessoas que viajaram. Tudo isso facilitou a contaminação num primeiro momento, porque a doença chegou pela classe média alta”, ressaltou ao Metrópoles.
Para ele , o grande número de casos identificados do coronavírus também se deve ao maior acesso a planos de saúde e poder aquisitivo para a realização de testes. A terceira razão seria o ponto em comum com as outras pessoas ouvidas pela reportagem: o desrespeito ao distanciamento.
“Eu moro em Águas Claras e vejo que as pessoas agem como se nada estivesse acontecendo. Só a educação e o investimento na quarentena real podem efetivamente reduzir a curva”, alertou o especialista.
Filha da vítima do Covid-19
A 27ª vítima de coronavírus no Distrito Federal morava em Águas Claras. A servidora pública aposentada Celina Xavier Gontijo, 63 anos, morreu após complicações em decorrência da doença. Em entrevista ao Metrópoles, Rebecca Gontijo, 33, filha da vítima, contestou a informação de que a mãe tivesse comorbidades. Ela afirmou que Celina se cuidava, respeitava o isolamento e “amava viver“.
A aposentada foi internada no Hospital das Forças Armadas (HFA) em 31 de março de 2020. No dia 1º de abril de 2020, precisou ser entubada e transferida para a unidade de terapia intensiva (UTI). Morreu no sábado, 25 de março de 2020.
A falta de cuidados para evitar a proliferação do coronavírus em Águas Claras é observada por Rebecca. “Moro lá e as pessoas andam como se nada estivesse acontecendo. O comércio está lotado e ninguém está de máscara”, enfatizou. Celina deixou três filhos e o marido.
Medidas do GDF
Devido ao crescimento no número de casos confirmados, o Governo do Distrito Federal tem voltado a atenção a Águas Claras. O governador Ibaneis Rocha (MDB) decidiu iniciar a testagem em massa na segunda região com maior quantidade de casos em números absolutos e no Plano Piloto, que está em primeiro lugar.
Além disso, o governador disse que pode retardar a retomada das atividades econômicas na cidade, caso os números não regridem.
Embora a previsão para abertura do comércio seja 3 de maio, a testagem em massa é que vai nortear o retorno das atividades em Águas Claras. “A população intensa em condomínios ajuda na contaminação. Se houver o registro de uma contaminação muito grande, a reabertura no comércio lá pode ser diferente”, sinalizou Ibaneis, em entrevista concedida ao Metrópoles, quarta-feira, 22 de março de 2020.
Primeiro caso de Covid-19 em Águas Claras
Primeiro caso diagnosticado da Covid-19 em Águas Claras, o advogado Jean Pablo de Paiva Lopes descobriu a doença no dia 12 de março. Ele estava com um abscesso na perna e acreditava que a febre era por causa disso.
Começou a sentir, então, muito cansaço, sonolência e voltou ao hospital. “Era a terceira vez que ia ao Anchieta. Nas duas primeiras, achei que era a perna. Na terceira, fizeram o exame para coronavírus e deu positivo”, lembrou ao Metrópoles.
O advogado ficou internado três dias na UTI, além dos dias de isolamento em casa. Com sete dias, a febre cessou e, após duas semanas, ele se sentia melhor. “Foi a doença que mais me deixou convalescido. É uma enfermidade terrível”, salientou.
O número de casos confirmados do novo coronavírus no Distrito Federal chegou a 1.253 na noite deste domingo. Houve 72 registros a mais em relação ao balanço divulgado ao meio-dia.