População investe em coleiras, vacinação e prevenção de doenças como raiva, giardíase e leishmaniose; especialista alerta para responsabilidade dos tutores
Quem anda pelas ruas, praças e parques de Águas Claras, no Distrito Federal, logo percebe a forte presença de cães acompanhando seus tutores. Muitos moradores da região adotaram o hábito de passear com os pets pelas calçadas arborizadas, espaços de convivência dos condomínios e áreas públicas, levando consigo uma rotina de cuidados que vai além do simples passeio. Seja com a coleira, vacinas em dia ou atenção com doenças perigosas como a raiva e a leishmaniose, os tutores mostram que zelar pelos animais também é zelar pela saúde de todos.
É o caso de Pollyanna Duarte, tutora do Max, um cãozinho de pequeno porte que faz parte da rotina da família. “Durante o passeio eu tento ter o máximo de cuidado possível para ele não pegar algum resto de alimento do chão ou de algum lixo. Já aconteceu uma vez e foi um susto enorme, então hoje fico mais alerta com isso. Algo que acho muito importante é sempre levar um saquinho para recolher as fezes e descartar na lixeira. Infelizmente, aqui nas redondezas do condomínio o que mais vejo são fezes no chão, na calçada. Outros tutores não têm esse cuidado. Além de ser anti-higiênico, acredito que pode causar alguma doença. Só passeamos com ele na coleira e guia, para ele não avançar em outros cachorros. Às vezes ele não tem um comportamento muito amigável”, relata.
Pollyanna também afirma manter todos os cuidados em dia com o pet. “Ele possui as vacinas em dia, e todo ano fico de olho na campanha do governo para vacinar contra a raiva. A cada dez dias, mais ou menos, levamos no pet shop para ele tomar banho e evitar pulgas, carrapatos, etc. Ele é o xodó da casa, pois não temos crianças aqui. Ele tem caminha, brinquedos, local para fazer as refeições e beber água. Mas nada de dormir na cama ou ficar no sofá. Não deixo.”
Essa consciência também vem sendo cobrada dentro dos condomínios. De acordo com o síndico Marcos Vieira, o cuidado com os animais não pode atrapalhar a convivência entre vizinhos. “Temos regras claras: uso obrigatório de coleiras nas áreas comuns, proibição de cães soltos nos elevadores e penalidades para quem não recolhe as fezes do animal. Não é implicância, é respeito e segurança para todos. Já tivemos caso de cachorro solto que avançou em criança e isso não pode acontecer”, afirma.

Além da educação e do respeito no convívio coletivo, a saúde dos animais também merece atenção especial. Segundo o médico veterinário Luiz Cury, que atende em uma clínica na própria região de Águas Claras, os cães que vivem em apartamentos têm problemas muito ligados ao estilo de vida dos tutores. “Hoje a gente vê muitos cachorros com sobrepeso, por conta de pouca atividade física e excesso de alimentação. Muitos comem além da conta e passeiam pouco, e isso contribui para doenças metabólicas e hormonais, como diabetes, por exemplo”, alerta.
Outro problema comum, segundo ele, são as doenças infectocontagiosas, especialmente em regiões com grande concentração de animais em espaços pequenos. “Aqui em Águas Claras, os locais de passeio são limitados e passam muitos cães todos os dias. A giardíase, por exemplo, é muito comum. Mesmo que o tutor recolha as fezes, os parasitas podem continuar no local, e outro cachorro pode pisar, lamber a pata depois ou até cheirar a grama contaminada”, explica.
O que é giardíase?
A giardíase é uma infecção intestinal causada por um protozoário chamado Giardia lamblia. A transmissão ocorre principalmente pelo contato com fezes contaminadas, seja diretamente ou por meio de água, grama e objetos sujos. Nos cães, os sintomas mais comuns são diarreia, vômitos, perda de peso e fraqueza. A doença é de fácil contágio, especialmente em locais onde circulam muitos animais. Por isso, manter o pet vermifugado e o ambiente limpo é essencial para a prevenção.
Luiz Cury destaca ainda a importância das vacinas e vermifugações periódicas. “Esses cães vivem expostos diariamente a possíveis parasitas e doenças. É fundamental que estejam bem imunizados. Existe vacina contra giárdia, que pode ser feita de forma adicional. Já a vermifugação pode seguir duas linhas: ou é feita a cada três a seis meses, ou o tutor realiza exames de fezes regularmente para checar a presença de parasitas. No meu caso, eu vermifugo meus cães a cada seis meses, mas também posso optar por fazer exames e só medicar se der positivo.”
A Secretaria Extraordinária de Proteção Animal do Distrito Federal (SEPAN-DF), criada pelo Decreto nº 46.233/2024, tem como foco o bem-estar animal, atuando em várias frentes. Entre as ações estão campanhas de vacinação, microchipagem, manejo populacional, incentivo à adoção e atendimentos veterinários. Atualmente, um projeto piloto está sendo montado com objetivo de acolher, abrigar, castrar e microchipar animais. Porém, segundo o órgão, a execução ainda depende de ajustes logísticos por parte da organização responsável.
Apesar disso, a SEPAN garante que mantém seu compromisso com ações educativas e políticas públicas voltadas à guarda responsável. Ainda assim, o órgão reconhece que não possui dados específicos sobre a região de Águas Claras, como número de cães registrados, casos de maus-tratos ou abandono.
Já a Diretoria de Vigilância Ambiental em Saúde (Zoonoses/DF) é o setor responsável por agir em casos de doenças com risco à saúde pública. Quando há suspeita ou confirmação de raiva, leishmaniose ou outras doenças definidas pelo Ministério da Saúde, os animais passam por uma triagem e são avaliados por médicos veterinários. No caso da leishmaniose, o animal precisa ser levado com laudo positivo do laboratório GVAZ. “A unidade não trata os animais, mas realiza observações e diagnósticos. Casos mais graves, como os de leishmaniose, não podem permanecer por mais de 24 horas nas unidades, para evitar contágio”, explica o órgão em nota.
Mesmo com toda essa estrutura pública, a responsabilidade continua sendo, principalmente, do tutor. “O cachorro não fala, então cabe a nós prestar atenção em qualquer mudança de comportamento, feridas, febres ou cansaço. Às vezes a doença já está avançada e o dono nem percebe. Por isso é importante fazer check-ups regularmente”, reforça o veterinário.
Além das doenças e da disciplina, o uso correto de coleiras, guias e identificação dos animais são medidas básicas que evitam problemas. “Já presenciei um cachorro fugir do dono na hora do passeio porque não estava com guia presa corretamente. A sorte foi que ele correu para o gramado e não para a avenida”, lembra a moradora Pollyanna Duarte.
Segundo o síndico Marcos, muitos prédios têm criado até espaços próprios para os pets. “Alguns condomínios implantaram áreas pet, com brinquedos, bancos e espaço para os cães correrem soltos, mas sempre com supervisão dos donos. Isso ajuda a evitar que os animais usem áreas infantis ou causem transtornos”, explica.
A expectativa dos moradores é que as ações públicas se tornem mais constantes e próximas da realidade local. “Seria ótimo ter mais campanhas aqui mesmo em Águas Claras, nas praças, com vacinação, microchipagem e orientação. Muita gente quer fazer o certo, só precisa de apoio”, diz Pollyanna.