Moradores denunciaram cobrança suspeita de taxa extra; dinheiro teria sido usado para gastos pessoais, viagens, e até construção de esmalteria
Um esquema milionário de desvio de verbas foi revelado no Residencial Monte Carlo, em Águas Claras (DF), culminando na prisão preventiva da ex-síndica do prédio. Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), ela é suspeita de ter desviado mais de R$ 1 milhão durante mais de dez anos à frente da administração do condomínio, localizado na Rua 22 Sul.
As suspeitas começaram em fevereiro deste ano, quando a ex-síndica propôs uma taxa extra de R$ 40 mil para instalação de uma portaria eletrônica. O pedido gerou desconfiança entre os moradores, pois o condomínio possuía fundo de reserva e já havia previsão orçamentária para uma reforma de fachada estimada em R$ 1 milhão.
A partir daí, conselheiros iniciaram uma auditoria nas contas e encontraram diversas irregularidades. Documentos fiscais foram manipulados e uma diarista foi usada como “laranja” para emitir recibos falsos. O nome dela constava como prestadora de serviços de limpeza e manutenção, embora nunca tivesse trabalhado no prédio. Pagamentos feitos à conta da diarista reforçaram os indícios de fraude.
A investigação também aponta o uso de recursos do condomínio para despesas pessoais como consultas médicas, compras em lojas de roupas, serviços de tatuagem, viagens de férias para Porto Seguro, cafés, e até a construção de uma esmalteria na Ceilândia. O estabelecimento ficava ao lado da vidraçaria do pai da ex-síndica — que, coincidentemente, era um dos principais fornecedores do prédio. Entre os itens mais inusitados adquiridos com o dinheiro dos condôminos estão um globo de festas e milhares de copos plásticos mensais.
Com base nas provas reunidas, a PCDF cumpriu mandado de busca e apreensão em 2 de abril. A prisão preventiva foi decretada e a ex-síndica foi detida no último dia 16. Professora da rede pública, ela está custodiada no Centro de Passagem da corporação e deve ser transferida em breve para o Presídio Feminino do DF, conhecido como Colmeia.
Enquanto o caso se desenrolava, o prédio enfrentava diversos problemas estruturais: extintores vencidos, piscina e sauna fora de uso há mais de dois anos, dívida de R$ 90 mil com a Receita Federal e um caixa completamente esvaziado. Diante do cenário de abandono, a nova administração organizou uma força-tarefa com 13 moradores voluntários para reestruturar o condomínio e mover ações judiciais contra a antiga gestora.
A ex-síndica nega as acusações, mas declarou que está disposta a devolver os valores caso seja comprovado algum prejuízo. O processo corre em sigilo, mas investigadores afirmam que o que já foi descoberto representa apenas “a ponta do iceberg”.